O que é BDR: entenda o seu significado e como funciona

Leonardo Pereira
Leonardo Pereira
Economista

BDRs são certificados emitidos no Brasil que representam valores mobiliários, ações ou outros títulos, de empresas do exterior.

Estes certificados permitem o investimento no capital de companhias estrangeiras por investidores diretamente do Brasil e da Bolsa de Valores brasileira (B3).

Com eles torna-se mais fácil, por exemplo, investir em ações de empresas listadas em bolsas estrangeiras, como a de Nova York. Essa aquisição ocorre de forma indireta sem que o investidor se torne sócio da companhia estrangeira. Funcionam como uma alternativa à negociação direta na bolsa do país onde a empresa se encontra listada.

BDR é uma sigla para Brazilian Depositary Receipts. Desta forma é como são mais conhecidos os Certificados de Depósito de Valores Mobiliários, regulamentados pelo Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Para investir em BDRs é preciso acesso ao mercado bolsista brasileiro através de uma corretora, escolhendo o título que deseja adquirir. Em alguns casos, como os BDRs Nível I uma qualificação é exigida ao investidor pelos regulares brasileiros.

Os Certificados BDRs são regulamentados desde 1996 no Brasil pela CVM e Banco Central, desde a Instrução CVM nº 255 e a Resolução nº 2318 do BC, daquele ano.

Atualmente são disciplinados pela Instrução CVM 332 e pela Instrução CVM 480, além das regras do Banco Central e da B3.

Como funcionam os BDRs

Os Certificados de Depósito de Valores Mobiliários (BDRs) existem após serem emitidos por instituições financeiras autorizadas na forma de títulos, conhecidos como valores mobiliários.

Essa autorização de funcionamento deve surgir do Banco Central e da CVM, que também fiscaliza os fundos enviados ao exterior.

A aquisição dos títulos por investidores acontece, então, na bolsa brasileira B3. Tudo deve ser feito garantindo que o certificado no Brasil acompanhe o ativo do exterior - geralmente as ações estrangeiras que o compõe.

Emissão de BDRs

O processo de emissão envolve duas instituições financeiras: a custodiante e a depositária ou emissora.

A primeira delas será a que no país de origem, onde as ações estão listadas, possui autorização para custodiar os ativos financeiros. É o caso, por exemplo, de uma financeira autorizada pelo Securities and Exchange Commission, a CVM dos Estados Unidos.

Essa instituição é a que adquire e reserva as ações e ativos das empresas no seu país de emissão.

A segunda delas, a instituição depositária, será a autorizada no Brasil para a emissão dos títulos BDRs contendo as ações das empresas estrangeiras, com base nos valores mobiliários (títulos) custodiados no exterior.

A depositária, então, cria um lastro com os ativos no exterior depositados na custodiante. Ela ainda deve garantir que o título BDR no Brasil acompanhe o movimento dos mesmos ativos no mercado que mantém no país de origem.

Neste caso, quem acompanha o processo no mercado será a CVM, enquanto o BC verifica e registra os recursos enviados ao outro país para a alienação dos certificados.

No processo também se considera como empresa patrocinadora a companhia estrangeira que emitiu valores mobiliários. É o caso das ações de uma empresa como a Apple, por exemplo. Ela fica conhecida desta forma se participar do processo, como você pode ver abaixo.

Tipos de BDRs

BDRs são classificados de acordo com o programa de lançamento dos títulos no país. Normalmente variam conforme o grau de divulgação de informações, distribuição, negociação e outras exigências.

A emissão é feita em duas categorias principais: Patrocinados ou Não Patrocinados. O primeiro deles é assim conhecido quando a própria companhia, dona das ações, patrocina o processo, contratando uma depositária para lançar os seus valores mobiliários no Brasil.

Já o segundo é quando isso não ocorre - caso mais frequente no mercado brasileiro. Neste caso a iniciativa parte da instituição depositária, que organiza os ativos no exterior e lança o certificado no país.

BDRs Patrocinados e níveis de qualificação

BDRs Patrocinados são divididos em três níveis, cada um representando um diferente grau de acesso ao mercado de capitais no Brasil pela companhia aberta que emitiu valores mobiliários de seu capital.

Nível I: BDRs lançados no mercado de balcão não organizado ou próprio, com dispensa de registro da companhia na CVM. A depositária deve transmitir ao mercado informações da companhia

Nível II: admite negociações em mercado de balcão organizado e na bolsa de valores, com dispensa de registro da companhia na CVM

Nível III: negociados em mercado de balcão organizado ou bolsa de valores, negociados por Oferta Pública, com a companhia emissora das ações devidamente registrada no Brasil pela CVM

No caso dos BDRs Patrocinados de nível I, é exigido qualificação dos investidores no acesso, tais como financeiras, fundos ou investidores autorizados pela CVM.

Códigos BDRs

Para encontrar BDRs listados no Brasil, a identificação é feita com os códigos de negociação iniciado com as siglas da companhia estrangeira e o final com o tipo de BDR oferecido:

  • Não Patrocinado: final 34 ou 35 (Exemplos: GOGL35 e AAPL34)
  • Patrocinado Nível I: final YY
  • Patrocinado Nível II: final 32
  • Patrocinado Nível III: final 33

Além das ações, BDRs também seguem outros títulos, como cotas de ETFs (sigla para Exchange Traded Fund). Esses fundos seguem índices que juntam vários ativos, como o índice bolsista S&P 500. O código destes BDRs são de final 39, a exemplo do BIVB39 lastreado no índice norte-americano já referido.

Na B3 podem ser encontrados diferentes certificados com lastro em ETFs, inclusive de renda variável, renda fixa, divisas ou commodities.

Vantagens e desvantagens dos BDRs

A principal vantagem dos BDRs é acessar facilmente ativos de outros países para aplicação diretamente do Brasil. Isso permite diversificar a carteira de ações com empresas como a Google e Apple, por exemplo.

Porém, apesar da facilidade em adquirir esses valores mobiliários em reais, os mesmos sofrem com as variações cambiais. Numa apreciação do real sobre o dólar, por exemplo, ações de empresas norte-americanas perdem o seu valor do ponto de vista cambial. O mesmo vale para o recebimento de dividendos vindos de fora.

A isso acrescenta-se que são de renda variável, com exceção de alguns ETFs. Com isso os rendimentos ou perdas são imprevisíveis, e requer uma boa análise da companhia adquirida.

Outro fator a ponderar tem a ver com a tributação: imposto de renda de 15% sobre a valorização, ou 20% do ganho se operado em Day Trade (compra e venda no mesmo dia). Ainda deve considerar o IR sobre dividendos de acordo com a tabela progressiva, recolhidos pelo próprio investidor.

Do lado dos custos, existem os de corretagem, a taxa de custódia e emolumentos da B3. Isso além da fatia paga à instituição depositária na distribuição dos dividendos de 3%.

Depositary Receipts em outros países

Os depositary receipts (DR) são há muito tempo uma forma comum de lastrear títulos de um país com o resto do mundo. Mesmo companhias brasileiras podem fazer isso e acessar o mercado de capitais de outros locais.

Entre os mais tradicionais está o American Depositary Receipt (ADR), certificados de depósito de valores mobiliários dos Estados Unidos. É através do ADR que uma empresa brasileira pode lançar as suas ações no mercado norte-americano.

Da mesma forma podem ou não serem patrocinados e divididos em níveis, do mais básico ao mais arrojado, em que a companhia lança as suas ações diretamente na Bolsa de Valores como a NASDAQ ou NYSE.

Já o Global Depositary Receipt (GDR) é o certificado que companhias utilizam para o lançamento das ações em dois ou mais mercados, normalmente o americano ou o europeu. A transação destes valores mobiliários ocorre em múltiplos mercados, mas com preços fixados ou em dólares, ou em euros. A maior parte dos GDRs são negociadas em bolsas europeias ou em Londres.

Leonardo Pereira
Leonardo Pereira
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto (2022), em Portugal
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